2010-06-18

 

Safari 5: a maçã venenosa para a sustentabilidade da imprensa


"(...) A Apple lançou recentemente um novo produto. Não estou a falar do iPad ou da nova versão do iPhone. Falo do Safari 5. E este browser tem uma funcionalidade - o Safari Reader - com uma característica particular. A página da Apple explica: "o Safari Reader remove a irritante publicidade e outras distracções visuais dos artigos online. Assim você tem toda a história e nada mais do que a história."

Não estamos a falar dos tradicionais bloqueadores de janelas. É mais do que isso. Trata-se de um programa que pura e simplesmente apaga a publicidade que está em cada página. Ao que se junta o facto importante de um artigo vir todo na mesma página, quando os artigos de várias páginas tinham publicidade em cada uma delas, para aumentar o número de visualizações - que é o que dá dinheiro às publicações.(...)

aqui escrevi que produtos como o iPad, pelas suas características, são uma oportunidade para os media tradicionais fazerem a transição para os novos tempos e recuperarem leitores perdidos. Mas isso não é possível se quem tem a capacidade de distribuir os conteúdos se encarrega de sabotar o seu financiamento. Ou seja, a Apple produz o remédio e o veneno ao mesmo tempo.

Das três uma: ou os jornais online cobram todos os conteúdos, ou põem na rede apenas o acessório como chamariz para o papel ou criam um mercado publicitário sólido para este suporte.

A primeira possibilidade não tem, por enquanto, pernas para andar numa dimensão que trave a morte do jornalismo escrito. O que se cobra aqui logo aparece gratuito ao lado. Sem controlo possível.(...)

Está na altura dos leitores dizerem que preferem a publicidade nos seus computadores ao fim do jornalismo. A não ser, claro, que os que hoje matam a possibilidade de se produzirem conteúdos os passem a fazer sozinhos de forma profissional. E aí, teríamos o mais preocupante e avassalador de todos os processos de concentração até hoje vistos.

Reparem: não estou apenas a falar de negócios. Sem imprensa profissional e livre - e para ser livre tem de ser sustentável - não há democracia. Não é menos do que isto que está em causa."


Fonte: Daniel Oliveira, in Expresso

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Comments:
Concordo que não há almoços nem jornais grátis. Este novo sistema permite ao utilizador escolher se quer publicidade ou não. Se não quer então irá contribuir para o fim do jornalismo. Mas alguém lhe perguntou antes se queria - e o que queria - quando levava com a publicidade nos olhos sem poder reagir? A liberdade de escolha deve ser assegurada do utilizador, independentemente das consequências. Cabe a cada serviço encontrar alternativas ao seu próprio subsídio (como tentam desesperadamente os CTT) em lugar da pedinchice ou do falso moralismo.
 
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