2011-09-21

 

A importância das artes num panorama económico difícil



«No último dia 12 de Março de 2011, a Itália festejava os 150 anos de sua criação, ocasião em que a Ópera de Roma apresentou a ópera Nabuco de Verdi, símbolo da unificação do país, que invocava a escravidão dos Judeus na Babilónia - uma obra musical e política à época em que a Itália estava sujeita ao império dos Habsburgos (1840) -.

O primeiro-ministro italiano assistia à apresentação, que era dirigida pelo maestro Ricardo Mutti.

Como Mutti veio a declarar à revista Time, houve, logo no início, uma ovação incomum, num clima que se transformou numa verdadeira "noite de revolução" quando sentiu uma atmosfera de tensão ao iniciarem os acordes do coro "Va pensiero" o famoso hino contra a dominação. Há situações que não se pode descrever, mas apenas sentir; o silêncio absoluto do público, na expectativa do hino; clima que se transforma em fervor aos primeiros acordes do mesmo. A reacção espontânea do público quando o coro entoa - "Ó minha pátria, tão bela e perdida".

Ao terminar o hino os aplausos da plateia interromperam a ópera e o público manifestou-se com gritos de "bis", "viva Itália", "viva Verdi".

Não sendo usual "dar bis" durante uma ópera - embora Mutti já o tenha feito uma vez em 1986, no teatro La Scala de Milão - o maestro hesitou pois, como ele depois viria a dizer: "não cabia um simples bis; havia de ter um propósito particular".

Uma vez que o público já tinha revelado o seu sentimento patriótico, o maestro voltou-se no púlpito e encarou o público - e, com ele, o próprio Primeiro-Ministro italiano -.

Fazendo-se silêncio e reagindo a um grito de "longa vida à Itália", Mutti pronunciou-se nos seguintes termos: "Sim, longa vida à Itália mas... [aplausos]. Já não tenho 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto aquiesço ao vosso pedido de bis para o Va Pensiero. Isto não se deve apenas à alegria patriótica que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o coro que cantava "Ó meu pais, belo e perdido", eu pensava que a continuarmos assim mataremos a cultura sobre a qual assenta a história da Itália. Neste caso, nós, nossa pátria, será verdadeiramente "bela e perdida". [aplausos, inclusivamente dos artistas]. Reina aqui um "clima italiano"; eu, Mutti, me calei por longos anos. Gostaria agora...nós deveríamos dar sentido a este canto; como estamos em nossa casa, o teatro da capital, e com um coro que cantou magnificamente e que é magnificamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para cantarmos juntos."

Foi assim que Mutti convidou o público a cantar o Coro dos Escravos.

Todo o público da ópera de Roma se levantou... e o coro também. No fim, vê-se o pranto emocionado dos cantores.

Foi um momento magnífico, actual e emocionante na ópera.»


Comentário:


É preciso compreender o papel da cultura e das artes em particular, especialmente nos tempos difíceis, como são aqueles que atravessamos.

A plenitude do homem e de um povo não se atinge, apenas, pelos seus feitos económicos, que constituem, apenas, o resultado do seu engenho e labor e um poderoso meio para assegurar a independência e "as liberdades".

As artes conseguem aliar as emoções à razão de um modo único, mobilizador e inspirador, contribuindo para o bem-estar e o progresso.
Este facto tem sido ignorado, muitas vezes, pelos decisores políticos e financeiros, muitos deles com uma concepção limitada das artes, como mero elemento decorativo.

Etiquetas: , , ,


Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

eXTReMe Tracker Free counter and web stats
Contador grátis e estatísticas para seu site em www.motigo.com

RSS: Tenha acesso às actualizações do Blog de Informação, clicando aqui ou no í­cone anterior.