2011-08-21

 

Racismo e xenofobia foram temas de conferência em Tavira



A conferência "Racismo/Xenofobia e outras discriminações" foi hoje realizada na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, a partir das 15 horas, no âmbito da iniciativa cívica “Tavira Ilimitada contra o racismo e a xenofobia”.

A conferência contou com as intervenções de Rui Tavares (deputado europeu), Juan de Dios Ramirez Heredia (presidente da la Union Romani em Espanha), Paul Schmit (embaixador do Luxemburgo), José Cutileiro (embaixador) e Jorge Sampaio (enquanto alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações), encontrando-se a sala com lotação esgotada.

A mesa também contou com a intervenção de José Delgado Martins, enquanto mentor da iniciativa cívica e do Presidente da Câmara Municipal de Tavira, Jorge Botelho, enquanto patrocinador do evento, tendo disponibilizado para o efeito uma sala da biblioteca municipal.

A escolha da cidade de Tavira para receber esta conferência é interessante, pois a mesma conta já com muitos séculos de convívio pacífico entre cidadãos das mais diversas origens e culturas (actualmente residem nesta cidade pessoas oriundas de 60 países). A conferência era importante - tanto pelo tema, como pelos intervenientes -. Por isso, sem deixar de enaltecer a iniciativa e a oportunidade da sua realização nesta conjuntura de crise económica, em que a tolerância dos povos é posta à prova, diariamente, por forças e interesses que valorizam pouco a dignidade humana, não posso deixar de manifestar alguma desilusão pelo teor das intervenções e desrespeito generalizado pela duração temporal programada para as mesmas.

Rui Tavares optou por seguir um guião de conteúdo essencialmente teórico e, em grande parte, desfocado dos temas centrais da conferência.

Juan de Dios Ramirez Heredia revelou-se enquanto orador mais hábil da conferência, sendo elegante e eficaz na forma e surpreendente - ou talvez não - no conteúdo. Após ter recordado algumas políticas de discriminação e extermínio de ciganos em pleno século XX, na Europa, defendeu a superioridade do modo de vida dos romani em relação às outras civilizações e culturas. Esta declaração não pode deixar de ser recebida - tal como foi produzida - com humor, numa conferência sobre o... racismo. No entender do conferencista, os demais povos apenas vivem para trabalhar, o que diminui o seu bem-estar e felicidade. Explicou que não existe no idioma romani a palavra «trabalhar». A expressão utilizada nessa língua que mais se aproxima a este conceito, significa, em português «fazer coisas». O palestrante ainda manifestou preocupação pela rápida subida do número de deputados da extrema-direita no Parlamento Europeu.

Por seu turno, Paul Schmit revelou na conferência o conteúdo das mais recentes políticas de integração de estrangeiros no Luxemburgo, que permite a dupla nacionalidade a estrangeiros mediante a verificação de um conjunto de condições (residência no Luxemburgo há mais de 7 anos e domínio do idioma luxemburguês, entre outras), bem como alguns dados interessantes sobre a comunidade portuguesa - que representa um quinto da população residente no Luxemburgo -, conforme reproduzido nesta notícia.

José Cutileiro abordou o tema, essencialmente, no plano internacional, referindo alguns aspectos relacionados com os fenómenos da multiculturalidade e do etnocentrismo.

Jorge Sampaio teve o discurso de conteúdo mais político, limitando-se, no entanto, a referir o mais óbvio, ou seja, que a conjuntura actual favorece o aumento da discriminação, apelando, ainda, que se evite o argumento da "excepcionalidade" ou do "incidente" para "fechar os olhos" a episódios como os de Oslo ou Londres.


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