2009-09-26

 

Dia de reflexão




Na véspera das eleições legislativas é dia de reflexão.



Deixo aqui algumas notas pessoais.



Infelizmente, a elevada taxa de iliteracia dos portugueses obrigou os candidatos a diminuir o nível da sua argumentação em campanha eleitoral - sobretudo na última semana -.

Segundo alguns teóricos, a qualidade da democracia ou a taxa de sucesso dos regimes democráticos depende, em grande medida, do nível cultural da população. Só um povo esclarecido poderá decidir de forma eficaz. Será esta uma das razões para o menor desenvolvimento económico, social e cultural de Portugal, em relação à média europeia? Temo que a resposta seja afirmativa.

Infelizmente, a comunicação social áudio-visual portuguesa (aquela que constitui, sobretudo para os menos informados, o principal, senão o único meio de informação) não contribuiu, na última semana, para informar devidamente os portugueses, explicando e analisando, por exemplo, as diferentes propostas partidárias.

Em vez disso, preferiu perder tempo com
faits divers.


Espero que os cidadãos eleitores do nosso país não tenham passado toda a legislatura distraídos, reservando apenas este dia para reflectir sobre a sua opção.

O seu voto será decisivo.



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Comments:
Tenho a fundada convicção de que a resposta é efectivamente afirmativa, ou seja, que na raiz do problema português está o factor cultural. Tal afirmação pode parecer pedantescamente elitista, porém o baixo nível cultural da nossa população é o principal obstáculo à sanidade democrática e à superação das dificuldades económicas. Ainda por cima, a principal (praticamente a única) força espiritual dos nossos dias - que é a televisão, claro - diariamente nos depeja a sua ração de horrores e imbecilidades.
Acho pois a sua nota muito certeira, e foi o que me motivou a este breve comentário.
 
Muito obrigado, Doutor A. R. Mendes;

agradeço e valorizo, sensibilizado, o seu comentário.

Será difícil, para os portugueses, descortinarem a verdade da realidade do país, no meio da imensa cortina de fumo lançada pelos meios de comunicação social.

No entanto, não deveremos culpar exclusivamente - ou sequer principalmente - os «media». Estes funcionam de acordo com as regras impostas por um "mercado", em que os «shares» e um clube restrito de financiadores determinam as receitas da publicidade e, deste modo, a sobrevivência de cada um dos projectos de comunicação social.

Se um canal de televisão apostasse, principalmente, na informação dita "séria", provavelmente 85% dos espectadores iria mudar de canal...

A alteração deste quadro só poderá suceder daqui a uma ou duas gerações, através de uma política educativa, cultural e social motivadora do interesse dos cidadãos pelos principais assuntos da gestão da «Pólis».

Para isso, em muito contribuirá, também, a qualidade da(s) liderança(s) política(s) em Portugal.

A política deverá atrair os melhores valores para, desse modo, ser atractiva para o comum dos cidadãos.

É preciso dignificar o poder político - o que só poderá acontecer com uma mudança profunda das mentalidades, das acções e do funcionamento das instituições -. Para contribuir nessa tarefa, os tribunais - enquanto autêntico «filtro» da sociedade - terão um papel importante a desempenhar.

Ao nível da Justiça, deverá acontecer um reforço da autonomia do Ministério Público e da independência do poder judicial, além da agilização dos meios processuais, de modo a prevenir e a sancionar - tempestivamente - as condutas ilícitas criminais de todos - incluindo os agentes políticos, os seus familiares e amigos -.

Deverá ainda ser aumentada a representatividade dos Deputados eleitos, mediante a alteração do sistema eleitoral e ser discutido e realizado um novo referendo sobre a regionalização.

Consoante o exemplo do funcionamento das instituições, a sociedade portuguesa poderá prosperar ou regredir...

O P.I.B português e a taxa de inclusão social também estão dependentes da seriedade dos agentes políticos.

Não é a espuma das ondas que arrasta a areia... mas a água. A consistência da acção política não é medida, pois, pela mera aparência...
 
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