2009-07-28
Sé Catedral de Faro: petição para obras de reparação
«A Sé Catedral de Faro, valor maior do património do Algarve, foi concluída em 1271 depois da reconquista cristã. Naquele espaço, existiu originalmente um templo romano que durante a ocupação visigótica foi adaptado a igreja, a denominada Catedral de Ossónoba. No período árabe foi construído nesse local uma mesquita. Ainda existem vestígios de todas estas construções.
O edifício, cujo exterior reflecte intervenções em várias épocas, apresenta no seu interior características renascentistas e uma decoração em estilo barroco, de que sobressaem a talha dourada e o órgão. Os vários terramotos que a abalaram – nomeadamente os de 1722 e 1755 - e os efeitos do ataque das tropas inglesas do conde de Essex em 1596, obrigaram a sucessivas obras de reconstrução que foram alterando e enriquecendo a sua traça primitiva.
Recentemente o edifício foi alvo de uma intervenção de reabilitação, que suscita as maiores reservas relativamente à qualidade dos trabalhos efectuados, tais como:
- A introdução de novos elementos, de que uma cimalha de carácter dissonante acoplada ao alçado frontal é o caso mais flagrante;
- A destruição do reboco histórico e a sua substituição por argamassa inapropriada composta por cal hidráulica industrial e cimento. Esta cobertura impede a natural respiração das paredes estruturais com danos previsíveis a curto/médio prazo, devido à acumulação de humidades;
- O acabamento do novo reboco é rugoso (areado), de cunho higienista, com arestas vivas nas cimalhas e remates, em dissonância absoluta com a cobertura tradicional, de superfícies lisas/onduladas e arestas arredondadas;
- A exposição das pedras estruturais, numa lógica de improvisação estética, é, no mínimo, polémica.
Estas intervenções configuram uma situação de descaracterização profunda da originalidade e autenticidade do edifício, atributos intrínsecos e indispensáveis ao conceito de património.
A denúncia destes actos por parte de cidadãos e da Associação Almargem, culminou com a actual suspensão das obras. Foram contactados e alertados a Diocese do Algarve, o IGESPAR, a Direcção Regional de Cultura, a Câmara Municipal de Faro e o seu Departamento do Património e todos os partidos com assento na Assembleia Municipal. Toda esta situação foi noticiada em vários jornais nacionais e regionais, televisão, rádio, tertúlias e blogues de cidadania no sentido de denunciar esta grave situação. Esta acção exemplar de cidadania tem que ser levada até ao fim, no sentido de evitar que no futuro novos atentados sejam perpetrados contra o nosso já muito depauperado património histórico e arquitectónico.
A Sé Catedral de Faro, símbolo maior da nossa cidade e da região, tem que se refazer dos gravíssimos danos entretanto causados, tal como no passado foi reconstruída depois de sofrer terramotos e ataques de piratas. Daí a necessidade imperativa de se recuperar a autenticidade e harmonia da igreja com obras de correcção dos erros de que foi alvo.
Os cidadãos que assinaram esta petição até 2 de Outubro de 2009, apelam às entidades competentes para a efectiva reparação dos danos a que a Sé foi agora sujeita e também para a prevenção de acções semelhantes no futuro, quer na Sé quer no restante património de Faro.»
Esta petição será entregue nessa data à Diocese do Algarve, ao IGESPAR, à Direcção Regional de Cultura, à Câmara Municipal de Faro e à Assembleia Municipal de Faro.
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